A força do multilateralismo: homenagem a Luz Elena Baños

Por Benoni Belli*


Depois de mais de seis anos à frente da Missão Permanente do México junto à OEA, a embaixadora Luz Elena Baños deixará em breve a função que exerceu com altivez, coragem e grande distinção. Diplomata de carreira com quase quatro décadas de serviço a seu país, período em que acumulou vasta experiência na América Latina, Caribe, Europa e Ásia, além de ter-se tornado especialista em diversos temas de importância fundamental – de segurança e defesa a direitos humanos, igualdade de gênero e desenvolvimento –, Luz Elena Baños colocou toda essa bagagem a serviço do fortalecimento do multilateralismo na OEA.

A Embaixadora Baños encarnou melhor do que ninguém os valores consagrados na Carta da Organização: a solução pacífica de controvérsias, o respeito à igualdade soberana dos Estados, a primazia do direito internacional, a visão acolhedora e generosa dos direitos humanos, a democracia que se baseia na liberdade, na igualdade e na justiça social. Munida desses valores e compromissos, exerceu com grande êxito cargos de liderança em órgãos da OEA, tais como a presidência do Conselho de Segurança Hemisférica, da Comissão de Assuntos Migratórios e da Junta Diretiva da Agência Interamericana de Desenvolvimento, além da vice-presidência do Conselho Permanente.

A sua arguta capacidade de análise, combinada com o conhecimento profundo dos dossiês, tornou-a uma referência iniludível em qualquer processo negociador. Em momentos críticos da Organização – seja em temas orçamentários e financeiros, seja em crises políticas ou emergências humanitárias –, a contribuição da representante mexicana sobressaía não apenas pelo raciocínio cristalino e a argumentação lógica, mas também pelo bom-senso e, sobretudo, pelo apego a soluções negociadas. Não se limitou, como muitos, à profissão de fé retórica no multilateralismo e no direito internacional. Aliou a retórica com sentido prático em sua atuação diária.

Ao assumir essa postura, refletiu a política externa de seu país, polindo esse reflexo por meio de seu brilhantismo diplomático. Não é exagero dizer, fazendo um trocadilho, que a embaixadora Luz Elena foi uma Luz durante um período caracterizado por crescentes tensões, questionamentos ao multilateralismo e retorno de concepções anti-iluministas e obscurantistas em diversos recantos da ordem regional e mundial. É a Luz de que falava Hannah Arendt em seu livro “Homens em Tempos Sombrios”, a Luz da esperança mesmo em tempos sombrios e de colapso moral, quando mais necessitamos recuperar o humanismo e a empatia. E Luz Elena foi Luz e bússola moral durante os mais de seis anos em que permaneceu como representante permanente de seu grande país.

A embaixadora Baños se despede da OEA, mas seu legado aqui permanecerá. O seu exemplo inspirador continuará sendo recordado no enfrentamento diário dos desafios que nos interpelam. A sua voz decidida, firme, mas ao mesmo tempo generosa e compreensiva, continuará reverberando nos salões da Organização. Hoje, mais do que nunca, celebrar a trajetória de Luz Elena Baños é celebrar o multilateralismo e o direito internacional. É expressar a convicção de que as relações internacionais não precisam reduzir-se à pura política de poder, mas devem ser calçadas no direito e no respeito mútuo, única forma de afastar o obscurantismo e o caos, abrindo caminho para a construção de uma região verdadeiramente democrática, segura, próspera e solidária. Obrigado, Luz, por iluminar esse tortuoso caminho.


*Benoni Belli é embaixador de carreira, representante permanente do Brasil junto à Organização dos Estados Americanos (OEA)


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