Os BRICS e a escalada da guerra

Por Jorge Branco*


Os países do BRICS estão no centro das equações geopolíticas dos conflitos globais. Tanto as guerras da Rússia contra a Ucrânia, a escalada colonialista de Israel contra a Palestina e, na sequência, a guerra de Israel contra o Irã, quanto as medidas tarifárias de Trump impactaram as relações internacionais. Esta reunião da Cúpula dos BRICS que ocorre no Rio de Janeiro, dias 6 e 7 de julho de 2025, sob a presidência do Brasil, está mais do que aquecida.

A reunião anterior, de 2024 em Kazan, foi marcada pela tensão sofrida pela Rússia em função dos países da União Europeia, OTAN e Estados Unidos agirem fortemente para isolá-la, comercialmente e politicamente. A resposta da liderança associada entre Rússia e China foi imediata, com o ingresso formal no BRICS de outros Estados, como Emirados Árabes Unidos, Egito, Arábia Saudita, Etiópia e Irã, além da aceitação de um grande e relevante número de países na condição de parceiros do bloco.

Este foi um movimento muito ousado no tabuleiro internacional, inclusive no interior do bloco original dos BRICS. A despeito das posições mais recuadas de Brasil, África do Sul e Índia, no que diz respeito a ampliação, o fato político foi consumado. Um ano depois, o bloco chega à Cúpula do Rio de Janeiro de 2025 com a ampliação de seus membros consolidada e irreversível.

Com o avanço dos governos reacionários à frente de países ocidentais, em especial dos Estados Unidos, o tema do multilateralismo toma novo sentido. Obviamente que o debate que cerca a crise do multilateralismo e o espaço para os países do Sul Global não está relacionado exclusivamente ao confronto entre ideias reacionárias e progressistas, uma vez que também no Sul Global e no próprio Bloco BRICS há governos reacionários. Mas a ideia da construção de um sistema e pactos de governança que garantam interesses dos países extra OTAN passa por um aumento do peso econômico e político de polos alternativos aos Estados Unidos e à União Europeia. O BRICS, com sua ampliação e com a presença de dois países beligerantes contra aliados da OTAN, Rússia e Irã, joga um peso decisivo a partir de sua característica de contraposição ao Norte Global.

O grande desafio desta Cúpula do BRICS é assumir uma posição revisionista no que diz respeito à ordem mundial. Para tanto, será importante uma posição assertiva no que diz respeito à guerra de tarifas de importação imposta pelo governo Trump. Também, por mais difícil que seja a engenharia diplomática, a Cúpula dos BRICS pode produzir uma convocação para um cessar-fogo e o estabelecimento de mesas de negociações nas guerras em curso, contribuindo para que haja uma desaprovação global à invasão colonial de Israel sobre as terras palestinas, como a iniciativa do governo sul-africano já sinalizou.

A ideia de uma nova multipolaridade onde o Sul Global tenha voz passa por uma impugnação explícita ao atual sistema de governança global onde uma única potência nuclear é capaz de determinar as relações globais, e onde não há questionamentos à sua ordem colonialista e belicista. Temas como o combate à pobreza, equilíbrio ambiental, liberdade de imigração, direitos fundamentais, igualdade de gênero e respeito étnico não vão surgir exclusivamente a partir das articulações no interior dos BRICS, contudo uma ação afirmativa que questione o atual sistema de governança é uma expectativa plausível para uma articulação de Estados que estão na periferia da OTAN, em que pese seu poder econômico e militar.

Esta reunião dos BRICS é decisiva para que se possa sinalizar que há um polo de aglutinação geopolítica alternativo ao bloco Estados Unidos/OTAN e que o tema da multipolaridade possa presidir a agenda das relações internacionais como forma de obstruir o crescimento da beligerância, do neocolonialismo e do aumento da pobreza.


*Jorge Branco é sociólogo, PhD em Ciência Politica, pesquisador sobre extrema direita e conselheiro Instituto Novos Paradigmas.


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